sexta-feira, 28 de junho de 2013

RELATÓRIA DE CAMPO


Relatório de Campo – Tríplice Fronteira



Grupo: Daniela Denardi, Luis Guilherme Crusiol e Tatiana Aparecida de Freitas
Quadra: 08



Relatório referente ao trabalho de campo para a Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), realizado nos dias 07,08 e 09 de junho de 2013.O trabalho realizado na disciplina de Geografia do Brasil (6GEO073) teve por objetivo observar as diversas relações desenvolvidas entre as três cidades: Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazú.


Saída de Londrina: dia 07/06 às 6h15 – Avenida Leste-Oeste ao lado do Museu Histórico Padre Carlos Weiss. 
Quilometragem saída: 180.786
Retorno a Londrina: 09/06 às 23h15
Quilometragem retorno: 182.128

INTRODUÇÃO

Conhecida como tríplice fronteira, as cidades de Puerto Iguazú, Ciudad del Este e Foz do Iguaçu estão separadas pelos rios Iguaçu – limite entre Argentina e Brasil – e rio Paraná – limite entre Brasil e Paraguai; e Argentina e Paraguai. Nesta região existe uma complexidade entre essas cidades que não podem ser explicadas individualmente, dentro de cada uma delas.
Desse modo, não é conveniente compreender o território apenas como extensão de posse do estado, a qual este nomeia politicamente. O território não é categoria de análise. Somente o uso dado ao território, ao longo de diversos períodos, fazendo com que este assuma diferentes funções, devido às diferentes relações existentes entre entres os fatores nele contidos é que possibilitarão uma análise racional (Santos e Silveira, 2006).

Ainda de acordo com Santos e Silveira (2006) o uso que é dado ao território configura-se como o próprio espaço geográfico, sendo este uma ampla categoria de análise. Neste sentido, ao analisar o espaço geográfico da tríplice fronteira é preciso analisar o histórico da região, fazendo periodizações, e analisar de que forma a configuração natural, a infraestrutura implementada, os povos que ali habitam, e a conexão quase que simultânea com o meio global contribui para a caracterização da tríplice fronteira.

O território brasileiro na tríplice fronteira ficou por muitos anos ‘esquecido’ pelas autoridades brasileiras. Isso porque os caudalosos rio Paraná e Iguaçu constituíam-se em sólidas fronteiras. Contudo, em meados do século XIX a argentina possuía na região infraestrutura, ainda que precária, que permitia a navegação e a exploração de erva-mate. Devido a estes fatores, a fronteira entre Argentina e Brasil tornou-se vulnerável, fazendo com que muitas pessoas oriundas daquele país se estabelecessem em solo brasileiro, usufruíssem da extração de erva-mate e a contrabandeasse para o país vizinho (Wachowicz, 2010).

Visto a exposição da fronteira brasileira, o governo decretou, em 1888, a construção de uma colônia militar na fronteira guarani. O estabelecimento dessa colônia militar enfrentou inúmeras dificuldades, como o grande número de paraguaios e argentinos vivendo na região frente ao número de brasileiros, a dependência da infraestrutura argentina para o vestuário e comércio de alimentos e bebidas. Somado a isso, tem-se o fato de que pessoas que receberam terras do governo brasileiro no período da criação da colônia militar não se estabeleceram. Além disso, o centro urbano brasileiro mais próximo era Guarapuava o que dificultava as atividades brasileiras em união com a colônia militar. Neste período a exploração de erva-mate era continuada, sendo feita por brasileiros e argentinos (Wachowicz, 2010).

No início de século XX, década de 30, a exploração de erva-mate em terras brasileiras entrou em declínio devido à auto-suficiência que a Argentina obterá na exploração desta erva. Assim, iniciou-se na fronteira guarani a exploração de madeira. Devido à falta de infraestrutura, no território brasileiro,que desse suporte às atividades desenvolvidas na região, as toras de madeira eram, em grande parte, escoadas via Argentina. A falta de vínculos com o território brasileiro era tamanha que o idioma de maior presença era o espanhol e a moeda utilizada nas atividades econômicas e financeiras era o peso argentino. Até mesmo quando se referia ao dinheiro do governo, esse precisa ser trocado pela moeda brasileira em casas de câmbio argentinas. Era preciso nacionalizar a fronteira (Wachowicz, 2010).
Neste período Getúlio Vargas estava no poder, e tendo em vista a localização estratégica da fronteira guarani e o excedente de mão de obra no Estado do Rio Grande do Sul, Vargas, que era gaúcho, traçou um plano de povoamento da região por sul rio-grandenses. Desse modo, a região começava e ter um crescimento mais acelerado. Destaque para o mercado imobiliário, sobretudo nos novos loteamentos que foram implementados. Vargas buscando minimizar a influência paranaense nas novas áreas que estavam sendo incorporadas pelo capital gaúcho, criou em 1943 o Território Federal do Iguaçu, o qual foi extinto com o fim da Era Vargas, em 1945, retornando ao poder do Estado do Paraná (Wachowicz, 2010).
Na década de 50, buscando dar maior integração nacional à fronteira guarani e minimizar a influência geopolítica argentina na região, o governo brasileiro implementou importantes obras, tais como a Ponte Internacional da Amizade e a BR-277, ligando a cidade de Assunción ao litoral paranaense, passando por Foz do Iguaçu. A partir desta época a cidade de Foz do Iguaçu passou a apresentar maior crescimento econômico e populacional. A cidade estava começando a se consolidar como importante polo turístico, fosse pelas belezas naturais, fosse pelo polo de compras em Ciudad del Este (Roseira, 2006).
Na década de 70, atendendo às necessidades elétricas geradas pelo milagre econômico brasileiro, deu-se início à construção da Itaipu Binacional, no rio Paraná. Esta obra representou maior integração nacional, expansão das linhas de comunicação, sendo um dos pontos mais fortes de integração regional (Roseira, 2006).
Havia então a necessidade de mão-de-obra para trabalhar nesta importante e gigantesca obra. Assim, milhares de trabalhadores foram atraídos para a cidade de Foz do Iguaçu. Com essa massa populacional chegando à cidade, houve a necessidade de criação de serviços especializados para atendê-la. Somado a isso a atividade agrícola na região apresentava franco desenvolvimento, contribuindo para a consolidação da cidade de Foz do Iguaçu (Roseira, 2006).
Em fase mais recente a cidade de Foz do Iguaçu caracteriza-se como polo turístico mundial. As Cataratas do Iguaçu, a Hidrelétrica de Itaipu, a cidade de Puerto Iguazú, na Argentina, e Ciudad del Este, no Paraguai, que teve seu grande crescimento em função da zona franca de comércio com ampla atração de árabes para compor este setor, atraem milhares de turistas todos os anos.
Hoje, a tríplice fronteira está completamente conectada ao mercado global. As demandas de consumos vêm de turistas de diferentes partes do mundo, e o fornecimento de produtos tem origem em diferentes polos industriais mundo a fora. A cidade de Foz do Iguaçu, por ser a mais importante da região da tríplice fronteira conta com importante infraestrutura na área médico-hospitalar, de comércio e de serviços.

PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU – FOZ DO IGUAÇU

Saímos de Londrina dia 07/06 e partimos para Foz do Iguaçu, onde a primeira atividade do campo seria a visita ao Parque Nacional do Iguaçu, como parte das disciplinas de Recursos Naturais e Educação Ambiental (6GEO075) e Geografia do Brasil (6GEO073). Chegando ao Parque fomos comprar nossas entradas, que por sermos alunos e estarmos com visita programada pagamos somente o valor do transporte, que foi de R$7,50. Ficamos esperando no centro de visitantes para pegarmos um dos ônibus do parque que leva as atrações. No centro observamos vários cartazes e fotos falando sobre o lixo no rio Iguaçu e o trabalho que eles desenvolvem todo ano para efetuar a coleta e limpeza das águas (Imagem 1).
A estrutura do parque é bem organizada e demos sorte de pegar um dia de clima agradável e com pouco movimentado. O ônibus vai avisando das paradas e dando instruções aos visitantes, em português e inglês. Durante o passeio cruzamos com turistas de diversas nacionalidades, o que reforça a importância turística que o parque representa para essa região e para o país.
O Parque é dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que é o órgão federal responsável pela gestão das Unidades de Conservação do Brasil. Foi criado em 1939 e abriga o maior remanescente de floresta Atlântica da região sul. O parque serve de refúgio para inúmeras espécies animais e vegetais brasileira, sendo algumas ameaçadas de extinção, além de importantes espécies de interesse científico. O parque, contando com os lados brasileiro e argentino, somam mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e 400 mil de florestas nativas.

O parque desenvolve vários programas para tentam minimizar os impactos ao meio ambiente. O sistema de transporte que nós utilizamos para locomoção dentro do local é uma dessas iniciativas, que visa reduzir o número de veículos particulares, reduzindo a queima de combustível, os ruídos e possíveis atropelamentos de animais (Imagem 3). O parque busca também promover a integração da comunidade, que começa com a geração de empregos que beneficiam os moradores de Foz do Iguaçu e de cidades vizinhas. Além da redução dos valores da entrada para os moradores da região, com o objetivo de incentivar e facilitar o acesso da comunidade.
Conhecer as Cataratas foi uma experiência única e ficamos impressionados com sua grandiosidade e beleza, com certeza faz jus ao estar entre as 7 Maravilhas do Mundo.
 

Imagem 1– Escultura feita com lixo retirado do rio Iguaçu. A obra se encontrava no centro de visitantes onde era possível ver também uma exposição de fotos e cartazes falando do problema do lixo no rio e do programa de limpeza realizado anualmente. Fonte: Daniela Denardi
Imagem 2– Cartazes informativos espelhados pelo parque. Fonte: Edcesar Sobral



 Imagem 3– Os ônibus do parque que levam às atrações são pintados com diferentes animais da fauna local. Fonte: Márcia Siqueira



Imagem 4 – Quati revirando o lixo atrás de alimento. Animal, que apesar de selvagem, já é habituado à presença humana. Fonte: Daniela Denardi
Imagem 5– Cataratas do Iguaçu, tirada de um dos mirantes do parque. Fonte: Daniela Denardi





PARAGUAI

Em nosso segundo dia de campo, saímos do hotel às 7h30min e fomos conhecer a Usina Binacional de Itaipu que fazia parte da programação da disciplina de Recursos Naturais e Educação Ambiental, a visita foi muito rápida, mas nos possibilitou ver a estrutura de uma das usinas hidrelétricas mais importantes do mundo. As 9h30min saímos de Itaipu e partimos em direção a fronteira com o Paraguai, para começarmos nossos trabalhos referentes à disciplina de Geografia do Brasil.
Quanto mais o ônibus se aproximava da fronteira era possível perceber um aumento no fluxo de veículos, principalmente de vans e motos. Como já estava determinado no programa, o ônibus nos deixaria nas proximidades da Ponte da Amizade e nos buscaria no mesmo local no horário previamente determinado. Descemos do ônibus e fomos caminhando, a travessia da ponte é rápida e o fluxo de pessoas e veículos é grande e constante.
A Ponte da Amizade foi construída entre nas décadas de 1950 e 1960 no governo de Castelo Branco, no Brasil e Alfredo Stroessner, no Paraguai. A ponte, que passa sobre rio Paraná, liga as cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este e teve grande importância para o desenvolvimento das áreas comerciais tanto do lado brasileiro, quanto paraguaio.
Apesar de ter sido tranquila a travessia da ponte, suas condições são precárias, possuindo uma via única de duas mãos e uma estreita passarela de pedestres, com um muro baixo e sem grades de segurança nas laterais. Assim como a ponte, atravessar a fronteira também foi tranquilo, não vimos nenhum tipo de fiscalização e entramos no Paraguai sem precisar se registrar ou enfrentar qualquer tipo de burocracia.

Ao entrar na Ciudad del Este a sensação que se tem é de completo caos. Para todos os lados que se olha estão presentes cartazes de propagandas em outdoors, muros, postes, carros, além das pessoas que nos abordam a cada passo entregando panfletos de lojas. O transito, como todo o restante, é caótico e a impressão que temos é de que não há regras. Apesar da presença de guardas de transito os motoristas não utilizam setas, as preferenciais não são respeitadas e os pedestres não têm vez, tudo isso combinado à ausência de semáforos e faixas de pedestres. A nossa sorte é que o transito flui muito lentamente, o que facilita a travessia das ruas.

A programação do trabalho de campo no lado paraguaio consistia em duas partes: a visita ao Museu Guarani em Hernandarias e a observação das quadras no centro da Ciudad del Este, previamente distribuídas aos grupos. Para chegarmos ao museu tínhamos a opção de pegar um ônibus, porém com toda a confusão de veículos e pessoas optamos por fazer o trajeto de van.
Enquanto esperávamos a chegada das vans que o professor Hirata havia arrumado éramos abordados a todo instante por mototaxistas, vanseiros e pessoas oferecendo os mais variados produtos, desde meias até armas, drogas e mulheres. A van que pegamos estava bem precária, mas como o que importa para um veículo no Paraguai é andar, entramos no clima e não nos preocupamos. Como estávamos apertados e as janelas tinham adesivos colados, não foi possível observar muito a paisagem do trajeto, mas a impressão que tivemos foi de pobreza e precariedade.


MUSEO DE LA TIERRA GUARANÍ - HERNANDARIAS

O Museo de la tierra Guarani fica localizado no município de Hernandarias, a 10 km de Ciudad del Este. O local é um espaço público e faz parte da Usina Binacional de Itaipu no lado paraguaio e conta ainda com um zoológico.  Chegando ao museu, fomos primeiro ao zoológico, que também funciona como um centro de reprodução.
O local conta com uma grande variedade de animais, principalmente felinos e aves, porém achei a estrutura do local precária. As jaulas eram pequenas, os grandes felinos ficavam em jaulas que não permitiam correr e saltar, as cobras ficavam em caixas de vidro minúsculas e as aves de grande porte em jaulas muito baixas, sem contar que muitas das jaulas estavam em locais que não recebiam luz solar e muitos animais visivelmente estressados (Imagens 6 e 7). Todas as jaulas tinham placas onde estava escrito o nome do animal em espanhol e Guarani.
Depois de visitar ao zoológico fomos para o Museu, onde ficamos livres para circular pelo espaço sem o acompanhamento de guias. O espaço físico do museu é bem organizado, com uma aparecia moderna, com painéis coloridos e bem iluminados, sala de vídeos informativos, utensílios arqueológicos e animais taxidermizados que habitam a região (Imagem 10). As informações estão dispostas em espanhol, inglês e português como é possível ver na imagem 9.
O museu apresenta a exposição “200 años de pueblos milenários” que percorre a história do Paraguai e dos povos que o habitaram. O museu faz um resgate da história dos povos indígenas que habitaram essa região, destacando sua importância na configuração atual desse território que ainda carrega traços culturais desses povos, como o idioma Guarani, ainda muito falado no país.

Imagem 6– Jaulas pequenas que abrigavam os grandes felinos. Fonte: Márcia Siqueira.



Imagem 7– Cágados e jacarés, também em espaços pequenos e com poucos pontos com incidência de luz solar, necessária a esses animais. Fonte: Daniela Denardi




Imagem 8– Prédio do museu da terra Guarani. Fonte: Daniela Denardi


Imagem 9– Painéis apresentando informações em três idiomas: espanhol, português e inglês. Fonte: Márcia Siqueira
Imagem 10– Utensílios utilizados em rituais e atividades cotidianas pelas tribos Guaranis. Fonte: Daniela Denardi


OBSERVAÇÃO DAS QUADRAS – CIUDAD DEL ESTE

Uma das atividades do trabalho de campo era a analise de 10 quadras do centro da cidade, sendo que a turma foi dividida em grupos e cada grupo ficou responsável por uma dessas quadras.  Na imagem 11 é possível observar a disposição das quadras a serem analisadas. O nosso grupo ficou responsável pela quadra 08, que é possível ver destacada tanto na imagem 11, quanto na 12.
Imagem 11– quadras e serem analisadas em Ciudad del Este, com destaque para a quadra 08. Fonte: Google Maps, adaptado por Márcia Siqueira


Imagem 12– Imagem de satélite com a localização da quadra 08. Fonte: Google Earth, adaptado por Daniela Denardi
Nossa quadra era composta pela Calle Boqueron, Avenida Adrian Jara, Avenida Carlos Antonio López e Avenida Monseñor Rodriguez e para chegarmos a ela atravessamos uma passarela de pedestres que passa sobre a rodovia e liga duas avenidas importantes da cidade. Nas duas pontas da passarela é possível observar uma paisagem um pouco diferente do restante, uma área mais limpa, cuidada, com uma presença maior de árvores e lixeiras, dando a impressão de uma praça publica comum em meio aquele caos.
 Imagem 13– Foto tirada da passarela que liga as avenidas San Blás e Monseñor Rodriguez. Fonte: Daniela Denardi
As características da quadra 08 não diferem muito do que observamos em outros pontos da cidade e as ruas que a compunham apresentavam características bem similares.   Com exceção da Calle Boqueron que não era muito movimentada e onde não vimos a presença de vendedores de rua, as outras ruas se caracterizavam justamente pelo contrario.  No geral, a quadra apresentava um fluxo intenso (imagem 14), tanto de pessoas e veículos, como de vendedores ambulantes presentes em toda a extensão das ruas e nos canteiros centrais das avenidas. As calçadas são irregulares e em muitos pontos estão quebradas o que dificulta ainda mais a locomoção, como é possível ver na imagem 15.
Essa região apresentava um solo bastante impermeabilizado, com poucas árvores e sem a presença de bueiros, necessários para o escoamento das águas. As ruas tinham hidrômetros indicando a distribuição de água tratada, porém o tratamento de esgoto é falho, se não inexistente. Além do esgoto correndo no meio fio, as ruas eram cheias de lixo e quase não se viam lixeiras pública (Imagem 16). Todas as ruas tinham ‘gatos’ na fiação, mas essa é uma característica presente em toda a cidade (Imagem 17 e 18).
O comercio era bastante variado, com muitas galerias e shopping, além de condomínios residenciais que se misturavam as lojas (Imagem 18). Vários prédios tinham letreiros orientais e observamos lojas de produtos libaneses indicando a forte presença de imigrantes, principalmente de origem árabe, que vieram para essa região atraídos pela infraestrutura e pelo comercio que já se desenvolvia, impulsionados pela construção da Usina Binacional de Itaipu e da Ponte da Amizade. Segundo Rabossi (2004, p. 290) “A presença árabe, tal como a de outros imigrantes na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, só é compreensível à luz da dinâmica comercial da região.”
Observamos também alguns prédios em construção, o que reforça ainda mais a característica de verticalização do centro da cidade (Imagem 20). O comercio de rua era composto por diversos produtos como roupas, bolsas, calçados, óculos de sol, relógios, produtos típicos, frutas, ervas, entre outros. Os preços dos produtos estão em sua maioria em dólar, porém é possível comprar tanto em real quanto em guarani.
A loja com maior destaque na nossa quadra era a Monalisa, que é um shopping vertical especializado em produtos importados de marcas renomadas (Imagem 21). Ao entrarmos na loja já percebemos que é um ambiente diferenciado do restante das lojas do entorno. Por se tratar de produtos originais, os preços são mais altos, mas mesmo assim são menores do que os encontrados no Brasil, é um local para quem procura grandes marcas internacionais. A loja é muito organizada e tem uma grande quantidade de seguranças, além do bom atendimento. Em um dos andares, especializado em alimentação, tinha um pianista tocando para as pessoas que estavam sentadas no restaurante, o que torna o lugar ainda mais contrastante com o caos do entorno.

Completada a quadra resolvemos ir procurar um local para almoçar e como já haviam nos dito que não era muito recomendado comer em qualquer lugar da cidade optamos pelo burger king. Enquanto comíamos, muitas crianças tentavam vender meias e aproveitavam para pegar o que sobrava de comida nas mesas, é uma imagem muito triste e que se repete por toda a cidade, onde é comum ver crianças tendo que trabalhar e sendo privadas de sua infância. 

 Imagem 14– Fluxo intenso de pedestres e veículos ao longo das ruas da quadra 08. Fonte: Jaqueline Vaz


 Imagem 15– Calçadas irregulares e quebradas. Fonte: Débora Manhi.

Imagem 16– Uma das poucas lixeiras que encontramos (esquina da Av. Monseñor Rodriguez com a Calle B|oqueron). Fonte: Débora Manhi


Imagem 17– Emaranhado de fios, evidenciando a grande quantidade de “gatos” presentes na fiação elétrica. Fonte: Daniela Denardi


 Imagem 18– Edifícios residenciais no centro comercial e a presença de “gatos” na fiação. Fonte: Débora Manhi

Imagem 19– Edifícios com nomes de origem oriental, indicando a forte presença de imigrantes na cidade. Fonte: Jaqueline Vaz
 Imagem 20– Prédios em construção, reforçando a tendência a verticalização do centro comercial da cidade. Fonte: Jaqueline Vaz
Imagem 21– Shopping Monalisa, especializado em produtos importados de marcas renomadas. Fonte: http://diariodemochileiro.com
PUERTO IGUAZÚ – ARGENTINA

Puerto Iguazú assim como Ciudad del Este faz fronteira com Foz do Iguaçu, a cidade se liga a Foz do Iguaçu através da Ponte Tancredo Neves, também chamada de Ponte da Fraternidade, que passa sobre o Rio Iguaçu. A visita a esta cidade na Argentina fez parte do terceiro dia de campo, que ocorreu no dia 09 de junho, partindo às 8h00 do hotel. O principal a ser observado são as diferenças existentes entre Puerto Iguazú e Ciudad del Este, que mesmo sendo duas cidades de fronteiras possuem dinâmicas e papeis bem diferentes.
Seguindo para a Argentina mudanças são notadas a partir da chegada a aduana, que diferente do Paraguai é necessário se registrar para dar entrada no país, dois alunos que não estavam portando documento de identidade e estavam com a carteira de motorista vencida não puderam entrar no país, após isso pegamos um táxi, que custou R$ 15,00, para ir até a feirinha.
Do Percurso feito da Aduana até a cidade, principalmente na região onde fica a feira, é possível ver um local totalmente diferente do presenciado em Ciudad del Este. Ao seguir o percurso nota-se uma cidade bem limpa, com casas bem estruturadas e ruas largas, é possível também notar a mudança na dinâmica da cidade, que por ser uma destinada ao turismo (Imagens 22 e 23). O centro possui várias lojas que vendem produtos nacionais, como artesanato, lojas de roupas, principalmente couro, há também muitos bares, boates, restaurantes destinados aos turistas quem passam por ela (Imagem 24).
A feirinha é uma atração à parte, ela oferece uma grande variedade de produtos típicos argentinos, como vinhos, doces, conservas, queijos, entre outros, nota-se que são produtos de grande qualidade e a preços bem acessíveis, neste ponto é importante lembrar a desvalorização da moeda Argentina frente ao real (Imagem 25 e 26). A cidade é estruturada para receber turistas, que em sua maioria visitam as Cataratas, mas não tem a mesma visibilidade pelos brasileiros que Ciudad del Este. Outro atrativo da cidade são os cassinos, que não chegamos a conhecer, mas que são responsáveis por atrair muitos visitantes para o local. 

Imagem 22– A cidade é bem estruturada, tranquila, com boas construções e ruas largas, tendo também uma grande presença de árvores e áreas verdes. Fonte: Márcia Siqueira


Imagem 23– Assim como as ruas, as calçadas também são largas, bem cuidadas e limpas. Fonte: Karitha Kogima

 Imagem 24– Rua com forte presença de bares, boates e restaurantes. Fonte: Márcia Siqueira
Imagem 25– Feirinha de Puerto Iguazú, uma das atrações turísticas da cidade, especializada em produtos alimentícios típicos da Argentina. Fonte: Daniela Denardi

  Imagem 26– Alguns dos produtos encontrados nas lojas da feirinha. Fonte: Márcia Siqueira


DUTY FREE SHOP – PUERTO IGUAZÚ

O último elemento a ser observado no trabalho de campo era a Duty Free Shop de Puerto Iguazú, localizada nas proximidades da aduana. Os produtos vendidos na loja são importados e de marcas renomadas e por serem isentos de impostos de importação apresentam preço mais baixo que em outros locais, mas mesmo esses preços tendo um valor menor que o de mercado, são voltados para um público de melhor poder aquisitivo. A estrutura da loja, no que diz respeito aos preços e produtos é bem parecido com a loja Monalisa em Ciudad del Este.
A loja possui um forte esquema de segurança, não sendo permitido entrar com sacolas, cadernos, câmeras fotográficas, celulares com câmera, entre outras restrições, mas ela oferece alternativas, como armários e sacolas com trava de segurança para colocar os pertences menores. Os produtos variam de bebidas, chocolates, vestuário, maquiagem, perfumes, brinquedos, entre outros. Por ser destinada principalmente a turistas, os preços são em dólar, mas o pagamento pode ser feito em real ou peso argentino. 
Imagem 27– Entrada do Duty Free Shop em Puerto Iguazú. Fonte: http://toqueessencial.blogspot.com.br

CONCLUSÃO
Após o estudo da teoria e a aplicação desta à prática, fica evidenciado o importante papel da região da tríplice fronteira no cenário nacional brasileiro e nos cenários internacionais argentino e paraguaio.  Uma soma de fatores possibilitou o uso do território que resulta na forma e função observadas em campo, como as Cataratas do Iguaçu, impulsionando o turismo assim, como Ciudad del Este e Puerto Iguazú.  Além disso, a Hidrelétrica Binacional de Itaipu que deu condição de ampliação do sistema elétrico brasileiro, necessária na época do milagre econômico, década de 70.
Conclui-se também que as redes de engenharia, de comunicação e financeira, fazem de Tríplice Fronteira uma região conectada à diferentes setores econômicos e financeiros do mundo, de modo que a referida região configura-se como ponto estratégico na geopolítica dos três países que a compõe.



INTERPRETAÇÕES PESSOAIS

Daniela Denardi
Eu, particularmente, gostei muito do trabalho de campo. Não conhecia nenhum dos locais visitados que, além do seu lado turístico, foram de grande proveito como parte dos estudos da disciplina de Geografia do Brasil. Foi possível ver na prática grande parte do que havíamos estudado até o momento do trabalho, principalmente os textos específicos para o trabalho de campo, que nos possibilitou fazer uma analise mais profunda do que observávamos.

Luis Guilherme Crusiol
Embora não tenha participado do trabalho de campo, conheço a tríplice fronteira a mais de 15 anos. Os aspectos abordados na teoria são aplicáveis à realidade da região. Viajo com certa frequência à cidade de Foz do Iguaçu, quase duas vezes ao ano, e é inegável o crescimento que tal cidade, juntamente com Puerto Iguazú e Ciudad del Este, vem apresentando no período que as acompanho. O turismo é crescente, bem como a infraestrutura da cidade de Foz. O setor de serviços está acompanhando o crescimento do turismo, e está em franco desenvolvimento. Um problema recorrente em áreas de fronteira é a violência, que surge com o tráfico de drogas e armas. Mesmo entre alguns problemas a tríplice fronteira é um importante polo econômico, turístico e fundamental para a geopolítica e diplomacia entre os países que a compõe.

Tatiana Aparecida de Freitas

Com o campo, foi possível ver como o espaço foi adaptado a realidade que aquela região necessitava, modificação está que foi mostrada nos textos, que ocorreu de forma diferente em cada cidade da Tríplice Fronteira, principalmente quando se faz referencia a Argentina e Paraguai, onde é notável a diferença na estrutura urbana das duas cidades. Enquanto Ciudad del Este tem um sistema urbano muito precário sendo esta uma cidade destinada ao comércio, em Puerto Iguazú uma cidade destinada ao turismo a toda uma estrutura, e uma boa organização urbana, muito parecida com que se vê em Foz do Iguaçu. Da mesma forma no comercio de produtos importados no Paraguai e na Duty Free, mesmo ambas vendendo produtos importados são destinadas a um público diferente, desta forma é importante colocar que mesmo sendo as três cidades pertencendo a tríplice fronteira assumem papeis diferentes.
 
REFERÊNCIAS
DENARDI, Daniela. Caderneta de Campo. 2013.
FREITAS, Tatiana Aparecida de. Caderneta de Campo. 2013.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e Sociedade no Início do século XXI. 9 ed, Record: Rio de Janeiro, 2006.
RABOSSI, Fernando. Árabes e muçulmanos em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este: notas para uma re-interpretação. In: Seyferth, G; Póvoa, H; Zanini, M.C.; Santos, M.. (Org.). Mundos em Movimento: Ensaios sobre migrações. Santa Maria: Editora da Universidade Federal de Santa Maria, 2007, v., p. 287-312.
RABOSSI, Fernando. Dimensões da espacialização das trocas - a propósito de mesiteros e sacoleiros em Ciudad del Este. Ideação (Cascavel), Foz do Iguaçu, v. 6, n.6, p. 151-176, 2004.
RABOSSI, Fernando. Nas Ruas de Ciudad del Este: Vidas e Vendar num Mercado de Fronteira. Rio de Janeiro. UFRJ. Tese de doutorado em Antropologia Social. 2004.
ROSEIRA, A. M. Foz do Iguaçu: Cidade rede sul-americana. 2006. 170 p. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 2006.
WACHOWICZ, Ruy Christovam. Oeste Paranaense. In: ______. História do Paraná. 2.ed. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2010. p. 275 – 291.
                                                                                
http://www.cataratasdoiguacu.com.br/portal/



 

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